05 dezembro 2014

Nostra culpa

Dois meses depois da última postagem, voltamos aqui ao nobre ofício de declarar algumas opiniões a respeito do ludopédio. Os motivos para ausência, além da correria atrás do vil metal, envolvem também a má fase que vive a prática profissional do esporte mais popular do planeta em terras tupiniquins. Se outrora éramos reverenciados como os "donos da bola", em virtude da nossa estirpe em campo, hoje somos uma referência do passado, do que já fomos, e não mais do que somos ou do que podemos ser. Culpados? Muitos. Desde os dirigentes da CBF, que teimam em manter uma estrutura arcaica, baseada na troca de favores e voltada ao mercantilismo sem ética nem transparência, passando pelos cartolas dos clubes, em grande parte amadores que pensam que administram, chegando aos jogadores, desarticulados, mal formados, pouco profissionais, e até mesmo envolvendo nós, torcedores, que pecamos grotescamente pelo imediatismo, pela ânsia de vitórias ainda que sem estofo, sem preparo. É o tal "futebol de resultados", que cobra seu preço.
A solução, claro, não se escora em um ponto apenas, mas numa ampla gama de mudanças, algumas estruturais, para que o futebol brasileiro possa resgatar o brilho de outrora. Penso que o começo é a responsabilização dos cartolas. Se o presidente de um clube for responsável pelas consequências de sua gestão, com foco "no que se refere" às finanças dos clubes, pode ser que se tornem mais prudentes e pensem antes de sair gastando desvairadamente. Seria o primeiro passo para os salários de treinadores (os "professores") saírem das cifras exorbitantes para patamares mais realistas. Um primeiro passo, claro. Mas um passo no bom caminho. Os clubes têm que deixar de ser uma fonte de descalabros que beneficia uma patota, como o Paraná Clube, que a cada "nova direção" afunda mais. Também não pode o clube ficar refém de um mecenas, como a parceria Palmeiras-Parmalat, que deixou o clube à míngua, ou a parceria Fluminense-Unimed, que parece seguir o mesmo roteiro.
Os clubes se pretendem empresas, o que é ótimo. Mas há os ônus dessa brincadeira, que também devem ser assumidos. Não podem ter um pé no lado empresarial, e desfrutar dos lucros, enquanto mantêm um pé no lado amador, com a desculpa esfarrapada de serem "atores sociais". Pura balela para enrolar o fisco e a sociedade.
Falta, aos clubes, o mesmo que falta ao conjunto da sociedade: seriedade. Do mesmo modo que desculpas rasas servem para isentar governantes, os cartolas se valem de argumentos igualmente banais, toscos, até, para justificar seus desmandos. E nós, passivamente, assistimos e aceitamos, como se natural fosse. Alguns até ficamos indignados, revoltados, mas pouco ou nada fazemos.
Acho que ainda nos falta muito para podermos nos dizer uma sociedade organizada. Dentro ou fora de campo.

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