Sim, vivemos uma crise de identidade no nosso futebol e não é de hoje. Penso que desde a fatídica derrota de 82 no Sarriá, derivamos para uma saída nada honrosa. O mundo viveu, durante um bom tempo, o satânico "futebol de resultados", sob o argumento nada inteligente de que o "futebol-arte" não vencia. Tristes tempos. Na Copa de 2010, vimos a Espanha praticar um futebol envolvente, ainda que um tanto amarrado, tocando a bola sem deixar o adversário tocar no melão, a exemplo do que fazia o Barcelona de Messi, Iniesta e Xai, comandados por Guardiola. O "tiki-taka" ganhava o mundo e angariava adeptos, assim como críticos à suposta "chatice" do jogo espanhol. O fato é que os espanhóis ganhavam, dominavam o cenário futebolístico e inspiravam a nova geração. O mais surpreendente é que diziam que apenas faziam "o que os brasileiros faziam". Claro, referiam-se ao nosso futebol de outrora, aquele que encantava multidões e celebrava o futebol-arte. O futebol lúdico, mais bonito, que até perdia, mas não deixava de jogar bem. Outros tempos. Demos lugar à "era Dunga" dentro e fora dos gramados. Cedemos à pressão e passamos a buscar o resultado a qualquer preço. Como diz um amigo meu, "o Brasil é o único país que perde uma Copa do Mundo". Não nos contentamos em participar, claro. Temos que ganhar. É uma obrigação e, com ela, vem o argumento, imbecil, de que ganhar jogando feio é melhor que perder jogando bonito. E quem disse que não se pode ganhar jogando bonito? Assim fizemos em 58, 62, 70 e, até, em 2002. Não, não o fizemos em 94. Essa postura acabou nos custando caro. Percebemos, hoje, que não temos mais o "legítimo camisa 10", o cara que toca a bola, que olha o jogo de cima, que pensa, que organiza o time. Nossas bases estão cheios de cabeças-de-bagre truculentos, que não foram devidamente apresentados ao objeto de jogo, a bola. Temos zagueiros, temos marcadores, mas não temos aqueles que fazem do futebol algo bonito de se ver. Sinal dos tempos em que os rejeitados pela Europa fazem sucesso por plagas tupiniquins, como Robinho e Kaká. Assim, temos que ver o futebol bonito sendo jogado pelos alemães, os "duros" do passado. Temos que admirar os espanhóis, que deixaram para trás a pecha de azarões. Até a Holanda, que sempre aparece bem na foto, é objeto de inveja e admiração. Nós nos apequenamos e ficamos atrelados ao passado brilhante e ao presente aturdido, em busca de uma identidade que nos redima, que possa nos fazer voltar a sonhar com a bola nos pés. Nem que seja só no futebol...
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