08 dezembro 2012

Futebol de resultados

Findo o espetáculo, vem o rescaldo, a análise. Ver o que aconteceu, olhar com outros olhos, aprender com os erros. Tudo isso faz parte do aprendizado e da maturação, essenciais para avançarmos, evoluirmos. Bem, pelo menos no discurso, é assim. Nos clubes de futebol, não parece ser. Vide o Palmeiras, que repete o feito de 10 anos atrás, quando caiu para a Segundona por motivos que parecem ter sido os mesmos da derrocada atual. Uma pena...
Mas não é privilégio do Verdão do Parque Antártica. O São Paulo já desfrutou de tempos mais equilibrados, quando ganhava tudo e dava exemplo de administração competente. As brigas internas da atualidade mostram que o ambiente está conturbado. Já o Framengo continua a bagunça de sempre. Um mandato amador manteve o clube na trajetória da falta de rumo e das decisões intempestivas, onde desmandos e falta de planejamento imperaram como sempre. A demissão de Andrade, campeão em 2009, a dispensa de Ronaldinho Gaúcho, que se destacou no Galo, e a insistência com Adriano atestam a incompetência da diretoria rubro-negra.
Do outro lado da moeda, vemos um Corínthians que soube se estruturar após o retorno da Série B. Fez um baita salamaleque com Ronaldo Fenômeno, explorou o quanto pôde a marca e tá aí, colhendo seus frutos. Verdade que com uma ajudinha nada republicana do Lula, mas, ainda assim, soube fazer. Até material de divulgação em japonês fizeram para a disputa do mundial, dando exemplo para os clubes nacionais, que nunca se preocuparam com essa interação no país da disputa. E o Flu, que explora uma longa parceria com a Unimed, cuja interferência no cotidiano do clube foi alvo de críticas, mas, ainda assim, serviu para montar um elenco campeão, amealhando dois títulos nas últimas três temporadas.
Ou seja, a administração do clube deve ser eficiente para possibilitar desfrutar da serenidade e da arrecadação. E, para isso, os clubes precisam aprender a administrar seus ativos. Marca, imagem, valores, torcida. Um conjunto de bens intangíveis que, se bem conduzidos, podem gerar o que todos precisam para sobreviver: dinheiro. O primeiro passo, claro, é se organizar. Acabar com o "Diretor Torcedor", que decide com o coração e mete os pés pelas mãos quando o bicho pega. A mesmice de demitir técnico após 3 ou 4 derrotas para esfriar a torcida tem de dar lugar a um planejamento de longo prazo, de construir um time a partir das bases, gerando jogadores com constância, possibilitando manter um elenco competitivo e, com isso, estar em destaque para usufruir da imagem e do poder da torcida.
Fácil de falar, difícil de fazer, já que a volatilidade do humor da torcida costuma direcionar as decisões dos cartolas. E é essa separação que precisa ser feita. Ou o clube é gerido a partir de um planejamento ou fica dando tiros a esmo, acertando de vez em quando, mas nunca aprendendo com o que dá certo ou errado.
Inter e Grêmio deram uma tacada certeira no programa de "sócio-torcedor", copiado pelos demais. Uma receita simples e até banal, mas que demorou para ser utilizada. Receita que, claro, depende de ter um estádio para acomodar a torcida - e de ter torcida para ser explorada.
Formar jogadores a partir da base é uma tarefa que os clubes fazem, apesar da falta de organização. Não fosse a fartura de garotos querendo jogar bola, a empreitada não seria assim tão fácil. O Santos parece que tem a manha ou a sorte para isso. Periodicamente aparece uma geração de jogadores que encantam e levam o time para as cabeças. Os Meninos da Vila, em 78, Giovani, em 95, Diego e Robinho, no início do século, e, agora, Neymar e Ganso. Imagine se o Peixe tivesse trabalhado bem esses talentos...
Enfim, o futebol é um grande negócio e, como tal, é para profissionais. Alguns clubes tentam investir em estrutura, contratando gerentes para ajudar a gerir o "negócio futebol", mas dá a impressão de que os resultados não são para já. Penso que falta conhecimento, falta investimento e, sobretudo, falta certa ousadia, inventividade. Basta ver que a maioria dos clubes ainda deve uma grana violenta para o governo (que aceita e ainda negocia!) e dependem da Globo para transmitir os jogos. Santo amadorismo!
O "futebol de resultados" fica só no campo?

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