30 novembro 2012

Nossa Copa

A saída de Mano Menezes, desejada por 9 entre 10 brasileiros, foi surpreendente, até certo ponto. Afinal, o cara tinha acabado de ganhar seu primeiro desafio, ainda que mequetrefe, o famigerado "Superclássico das Américas". Em tese, era para estar com certa moral. Mas não. Mano já não vinha gozando de prestígio com o atual mandatário, José Maria Marín, que resolveu fazer uma limpa na CBF. Marin também não é bobo, sabe que depende de resultados para ficar à frente da instituição. No curto prazo, tem a Copa das Confederações no ano que vem, que é o aperitivo para o prato principal, a Copa do Mundo em 2014.
Para o lugar do gaúcho, chamou outro, Felipão. Carismático, querido pelos torcedores e com histórico vencedor. Como coordenador, seja lá o que isso queira dizer, vai Parreira, igualmente vencedor, conhecido, com baita bagagem. Com essa dupla, a CBF espera conquistar a Copa em casa, evitando o vexame junto ao torcedor. Uma saída mais conservadora e política, impossível. E retrógrada, também. Felipão pode até trazer o caneco, mas não trará nosso futebol de volta. Aliás, futebol de categoria mesmo, jogamos a última vez em 82. Felipão me parece ultrapassado. Faz tempo que não tem resultados satisfatórios. A última passagem pelo Palmeiras foi recheada de conflitos, de rusgas, de entreveros e culminou com o Verdão na Segundona.
Parreira, dono de uma carreira extensa, com passagens pelo exterior, só teve uma atuação digna de respeito, que foi no Corinthians de 2002, quando levou a Copa do Brasil e o Rio-São Paulo. Também foi campeão pelo Flu, assumindo o time montado por Carbone, em 84, e na Série C, pela qual o clube é imensamente grato. O resto é composto de passagens de menor expressão, sem muita relevância, dirigindo times da Arábia e outros mercados emergentes. O destaque, claro, é o título mundial de 94, quando praticamos um futebol bem ruinzinho, em uma Copa bem fraquinha, ganhando de uma Itália que jogou praticamente com dois a menos.
A responsabilidade é grande: ganhar a Copa, único resultado aceitável, em um momento em que a nossa safra não é lá essas coisas. Para ilustrar, basta olhar para a Europa e perguntar quem é o destaque tupiniquim no Velho Continente. A resposta não agrada. Montar um bom time para vestir a Amarelinha, hoje, não é uma tarefa das mais tranquilas. Não temos um ataque que faça os beques suarem frio, como nos tempos de Romário e Ronaldo. Não temos uma meia-cancha técnica e criativa, que toque a bola e dite o ritmo da partida, como faziam Tostão, Rivelino, Zico, Sócrates, Falcão e eu. Hoje temos bons zagueiros (não muitos), bons goleiros e um bom lateral. De resto, estamos carecendo de valores que façam jus à mítica camisa que encantou os gramados mundo afora.
Muito dessa dificuldade é oriunda do nosso estilo de jogo. Ou da falta dele. Hoje, os clubes primam pelo "futebol de resultados". Se outrora jogávamos o "futebol-arte", hoje praticamos o futebol-brucutu, onde o meia-cancha, antes cérebro da equipe, foi transformado num marcador por excelência, o "volante", que é um Dunga piorado. Zagueiro não mais rouba a bola e arma o contragolpe, limitando-se a destruir a jogada - quando muito sem quebrar o adversário.
Enfim, a previsão de nossa participação na Copa não é das mais brilhantes. Claro que o fato de jogar em casa ajuda, mas faltará o elemento principal, que é o aspecto lúdico, de jogar com prazer.
Felipão e Parreira, a aposta de Marin.
Foto: Mowa Press

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