17 setembro 2012

Um outro olhar

Do colega Jean Sigel:


O que é torcer?
Como torcedor do Coritiba desde pequeno, fui ao estádio neste último domingo de sol para assistir Coritiba x Santos. Também, confesso, como apaixonado por futebol, fui olhar de perto Neymar jogar. Afinal o futebol bem jogado pelos pés de um craque tem muito mais encantamento. O lado torcedor alvi-verde estava indo muito bem, pois ganhávamos por 1x0 e ainda jogávamos melhor, sendo que o principal astro santista não estava em dia inspirado e muito bem marcado.
Mas o que me chamou muito a atenção durante o jogo foi a forma com que muitos torcedores se preocupavam, desde a entrada dos times em campo, mais em torcer contra Neymar do que torcer pelo próprio time. Um craque – aquele que domina a arte de jogar bola como poucos – chama mesmo a atenção, para o bem ou para o mal. Até aí, tudo bem, pois futebol é passional. Mas não entendo a reação de fúria, que beira a inveja destrutiva, de alguns torcedores que passam cada minuto esperando Neymar tocar na boa para soltar seus berros e insultos na tentativa de desequilibrar o jogador, chamando–o de pipoqueiro, maloqueiro, vagabundo, farsante e alguns outros termos mais baixos que nem cabe citar. Ao mesmo tempo que torcia muito para meu time vencer, queria ver Neymar jogar e se divertir em campo, mesmo que isso significasse perigo iminente ao meu próprio time. Valia o risco. Gosto de ver futebol arte acima de tudo, algo hoje raro. Por isso, acho estranhas reações tão intempestivas de torcedores achincalhando jogadores desse nível no Brasil, com termos chulos, até mesmo na frente de seus filhos, filhas, netos, sem se preocupar com os ouvidos alheios, apenas preocupando-se em defender suas cores com uma honra e machismo que beiram até a insanidade ou o ridículo.
Apesar de torcedor e crítico do meu time, aprendi aos poucos a assistir futebol e ao esporte com outros olhos. Olhos que torcem e ao mesmo tempo admiram boas jogadas e bons jogadores, mesmo que sejam do time adversário. Lembro-me que quando era piá, já com as cores do Coxa e indo ao estádio com meu pai, eu tinha quase um segundo time no coração na década de 80 por causa de um jogador genial apenas: Zico, simplesmente meu ídolo da infância no futebol. Aquele cara da camisa 10 do Mengo desfilava nos gramados com tamanho talento e genialidade que eu não perdia um jogo do time carioca e até ganhei uma camisa 10 do time da gávea de meu pai, que, no entanto, simpatizava com o Botafogo por causa dos tempos de Garrincha. Isso era mais comum naquela época talvez pela quantidade de craques que estavam em gramados brasileiros e pela tolerância dos torcedores, imagino. Eu chegava a fazer meus jogos imaginários no meu quarto fazendo gol como Zico e recebendo um passe de um jogador do Coxa. Sonhar era possível. Não cheguei a vê-lo no Couto Pereira ou em outro estádio, infelizmente, mas ter podido assistir ao vivo Romário, Edmundo, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho, Zidane, entre outros, e, agora, Neymar, são oportunidades que podem nunca mais se repetir para quem gosta de futebol. Por isso fico impressionado com essas reações de ofensa de diversos torcedores frequentadores de estádios de futebol direcionadas a jovens ou velhos craques que ainda estão por aqui, apesar de escassos, simplesmente por jogarem em tivemos adversários. Fico imaginando como torceremos durante a Copa do Mundo, se ridicularizamos nossos próprios craques em casa. Será que apenas ofendendo e achincalhando Messi, Cristiano Ronaldo, Iniesta, Xavi, Forlan, Rooney e cia, deixando escapar a chance de ver artistas da bola independente da nacionalidade? Será que essa é a maneira que nós brasileiros sabemos torcer ou não torcer? E nas olimpíadas, como será com outros esportistas de outros países no Rio?
Bem quanto ao final do jogo, infelizmente perdemos de virada do Santos por 2x1 em um jogo que estava em nossas mãos. Mas os dois gols foram de Neymar, sendo um deles um golaço. Afinal craque joga e encanta, felizmente, mesmo que muitos não queiram.
                                                                                                          Jean Sigel

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