O que é torcer?
Como torcedor do Coritiba desde pequeno, fui ao estádio
neste último domingo de sol para assistir Coritiba x Santos. Também, confesso,
como apaixonado por futebol, fui olhar de perto Neymar jogar. Afinal o futebol
bem jogado pelos pés de um craque tem muito mais encantamento. O lado torcedor
alvi-verde estava indo muito bem, pois ganhávamos por 1x0 e ainda jogávamos
melhor, sendo que o principal astro santista não estava em dia inspirado e
muito bem marcado.
Mas o que me chamou muito a atenção durante o jogo foi
a forma com que muitos torcedores se preocupavam, desde a entrada dos times em campo, mais em torcer contra Neymar do que torcer pelo próprio time. Um craque –
aquele que domina a arte de jogar bola como poucos – chama mesmo a atenção, para
o bem ou para o mal. Até aí, tudo bem, pois futebol é passional. Mas não entendo
a reação de fúria, que beira a inveja destrutiva, de alguns torcedores que
passam cada minuto esperando Neymar tocar na boa para soltar seus berros e
insultos na tentativa de desequilibrar o jogador, chamando–o de pipoqueiro,
maloqueiro, vagabundo, farsante e alguns outros termos mais baixos que nem cabe
citar. Ao mesmo tempo que torcia muito para meu time vencer, queria ver Neymar
jogar e se divertir em campo, mesmo que isso significasse perigo iminente ao
meu próprio time. Valia o risco. Gosto de ver futebol arte acima de tudo, algo
hoje raro. Por isso, acho estranhas reações tão intempestivas de torcedores
achincalhando jogadores desse nível no Brasil, com termos chulos, até mesmo na
frente de seus filhos, filhas, netos, sem se preocupar com os ouvidos alheios,
apenas preocupando-se em defender suas cores com uma honra e machismo que beiram
até a insanidade ou o ridículo.
Apesar de torcedor e crítico do meu time, aprendi aos
poucos a assistir futebol e ao esporte com outros olhos. Olhos que torcem e ao
mesmo tempo admiram boas jogadas e bons jogadores, mesmo que sejam do time
adversário. Lembro-me que quando era piá, já com as cores do Coxa e indo ao
estádio com meu pai, eu tinha quase um segundo time no coração na década de 80
por causa de um jogador genial apenas: Zico, simplesmente meu ídolo da infância
no futebol. Aquele cara da camisa 10 do Mengo desfilava nos gramados com tamanho
talento e genialidade que eu não perdia um jogo do time carioca e até ganhei uma
camisa 10 do time da gávea de meu pai, que, no entanto, simpatizava com o
Botafogo por causa dos tempos de Garrincha. Isso era mais comum naquela época
talvez pela quantidade de craques que estavam em gramados brasileiros e pela
tolerância dos torcedores, imagino. Eu chegava a fazer meus jogos imaginários no
meu quarto fazendo gol como Zico e recebendo um passe de um jogador do Coxa.
Sonhar era possível. Não cheguei a vê-lo no Couto Pereira ou em outro estádio, infelizmente,
mas ter podido assistir ao vivo Romário, Edmundo, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho,
Zidane, entre outros, e, agora, Neymar, são oportunidades que podem nunca mais se
repetir para quem gosta de futebol. Por isso fico impressionado com essas
reações de ofensa de diversos torcedores frequentadores de estádios de futebol
direcionadas a jovens ou velhos craques que ainda estão por aqui, apesar de
escassos, simplesmente por jogarem em tivemos adversários. Fico imaginando como
torceremos durante a Copa do Mundo, se ridicularizamos nossos próprios craques
em casa. Será que apenas ofendendo e achincalhando Messi, Cristiano Ronaldo,
Iniesta, Xavi, Forlan, Rooney e cia, deixando escapar a chance de ver artistas
da bola independente da nacionalidade? Será que essa é a maneira que nós
brasileiros sabemos torcer ou não torcer? E nas olimpíadas, como será com outros
esportistas de outros países no Rio?
Bem quanto ao final do jogo, infelizmente perdemos de
virada do Santos por 2x1 em um jogo que estava em nossas mãos. Mas os dois gols
foram de Neymar, sendo um deles um golaço. Afinal craque joga e encanta,
felizmente, mesmo que muitos não queiram.
Jean
Sigel
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